segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Mais um inverno...

Mais um inverno se vai. E, com ele, toda a beleza da pureza do branco. O sol reaparece, as nuvens se fazem céu azul, o gelo se faz água. As flores respiram, enfim, após meses cobertas pela neve macia. É um dia que nasce.

Aqui estou, prestes a despertar com o dia. As janelas estão abertas, as luzes estão acesas. É um suspiro de primavera. E eu permaneço na escuridão. A escuridão permanece em mim, está dentro de mim.

Mais um inverno se vai. E, com ele, todo o encanto e ternura da esperança de outrora. Vai-se o amor, no nostálgico embalo de uma triste melodia, repleta de injúrias e arrependimentos. Vai-se o que jamais houve.

Debruço-me ao parapeito da janela, a contemplar a beleza da primeira aurora primaveril. Meu sorriso é vazio, meu olhar é perdido. Entrego-me aos prazeres do melhor uísque. Mais uma dose e se esvairía a garrafa. Ofereço meu copo ao nada, num brinde à inconstância da vida. Não há começo, não há meio, não há fim.

A tristeza é algo sublime. É a matriz do sentimento impensado, indesejado, ferido. É a beleza de estar, de ser, por apenas existir, por simples obra do acaso. É o frio do inverno. A alegria está à espreita, mas a tristeza é tão tentadora! Entrego-me a delírios, devaneios, a uma doce embriaguez. Não há começo, não há meio, mas há fim. Deve haver um fim.

Eis as lembranças de mais um inverno sem você.