quarta-feira, 11 de março de 2009

Cinco e meia

Era uma nebulosa madrugada. Ele estacionou seu carro à frente da porta do que parecia ser um restaurante, obviamente, ainda fechado. O céu estava escuro e um vento frio gelava os ossos de quem ali estivesse. Felizmente, não havia ninguém na rua além daquele homem, alto e esbelto, vestido num imponente terno preto, afinal, era cedo demais. Felizmente...

Olhando em seu relógio de pulso cravejado de brilhantes, recostou-se na lataria do carro e tirou do bolso um cigarro, acendendo-o. Tragava lentamente, observando a cortina de fumaça exalada, que formava, em volta dele, um tipo de neblina cinzenta. Olhou-se no espelho retrovisor, deslizou sua mão livre pelos lisos cabelos jogados para trás e sorriu levemente. Nisso, apagou o cigarro sobre o marcador do parquímetro e saiu a caminhar.

Em sua mente, quase nenhum pensamento. A única imagem que lhe vinha à cabeça era a de Sophie. Linda, gentil e tão doce Sophie! Seu andar era calmo, seus passos eram lentos, era uma cena agradável vê-lo caminhar. Entrando num beco, ele parecia procurar por alguém. Continuou a caminhar tranquilamente, desviando-se de obstáculos, até que, finalmente, encontrasse quem buscava.

Dele, naquele momento, podia-se ver somente a sombra. Da lateral do fundo do beco, ouviu-se o som de dois disparos, simultâneos a um grito de horror. Depois, o mais puro silêncio.

O homem retornou à rua, ainda com a feição tranquila, quase robótica. Tirando do bolso um telefone móvel, fez uma ligação, rápida e seca. Alguns minutos depois, três homens apareceram, adentrando os confins daquele beco. Em questão de segundos, foram em direção ao carro, abrindo o porta-malas e depositando lá um enorme pacote, que parecia um tanto quanto pesado, pois fora carregado com dificuldade. Era comprido e largo, estava coberto por um lençol branco. Logo, o porta-malas foi fechado, e o homem de terno, sentado ao volante, deu a partida no carro.

Ele dirigiu rápido, chegando a um lugar deserto. Corria um rio, por lá, numa espécie de enorme vala. Nisso, o porta-malas foi aberto, e o grandioso pacote posto para fora. Os homens se uniram novamente para carregá-lo, mas apenas três deles. Tudo que o homem de terno fazia era observá-los, sempre recostado em seu carro, numa postura absolutamente fria. Era como se cada movimento seu fosse cuidadosa e rapidamente calculado, a cada instante. O pacote foi lançado à vala.

Os homens sentaram-se numa espécia de meio-fio, e lá permaneceram por alguns minutos. Pareciam cansados do esforço realizado. O homem de terno acendeu, novamente, um cigarro. O relógio marcava cinco horas e trinta minutos, era o início da manhã. O tempo permanecia nublado. Assim que seu cigarro se acabou, ele ordenou para que todos retornassem ao carro, e dirigiu de volta ao ponto de partida. Em silêncio, quase automaticamente. Nem uma palavra, nada.

Doze horas se passaram. Era uma tarde fria. Ele estacionou seu carro, novamente, à frente do restaurante, que estava aberto e parecia simpático. A rua estava cheia, cheia de gente, de carros, de barulho, de movimento, de vida. Ele se olhou, novamente, no espelho retrovisor, oferecendo a seu próprio reflexo seu mesmo sorriso amarelo. Ajeitou os cabelos relativamente curtos, acendeu outro cigarro. Sentia-se relaxado. Eram cinco e meia, cinco e meia da tarde. Dali a dez minutos, se encontraria com Sophie. Ah, Sophie...