Era madrugada. O silêncio era perturbador. Todos dormiam, e até mesmo a casa parecia também adormecida. Era uma quietude quase angelical, como se tudo parasse de repente, e passasse de Terra a paraíso num piscar de olhos.
Eu, porém, revirava-me na cama, entre uma piscadela e outra. Meus pés tremiam, nervosos e inquietos, e minhas mãos rompiam-se num estalar de dedos a cada cinco minutos. Apesar da calmaria geral, eu permanecia ansiosa e muito bem acordada, distoando da harmonia do ambiente.
Levantei-me. Fiz alguns alongamentos, estalando violentamente as costas (maldita dor de coluna!), num movimento brusco. Estiquei-me no chão por completo, procurando relaxar. Não consegui.
Fui até a cozinha, beber um copo d'água. Logo, o singelo copo d'água transformou-se num copo de leite, numa fatia de pão. Mal vi, e lá estava uma refeição completa. Parada no banheiro para escovar os dentes. Logo, o chamado da natureza (malditos líquidos!).
Voltei ao quarto e, daquela vez, sentia-me completa e preparada para encontrar-me com o sono. Esperei, esperei, esperei. Ele não veio. Talvez só estivesse um pouco atrasado.
Sem perder as esperanças, fui até a janela. Debrucei-me ao parapeito e fiquei a observar a rua. Estava densa e deserta. Entre um carro e outro, todos sempre em alta velocidade, tudo permanecia igual. Igualmente quieto, igualmente estático. Às vezes, surpreendia-me um avião, com sua luzinha a brilhar no alto, mas foram poucos.
Mudei de tática. Sentei-me no sofá, e, tomando na mão o controle remoto (oh, precioso!), sintonizei em meu programa favorito, um bloco de seriados antigos. Pior ainda. Tão interessada estava, que tive de lutar comigo mesma para sair de lá. Venci: a televisão foi desligada.
Música, ah, sim! Sabe-se há muito tempo que a música ajuda a relaxar, então por quê não tentar? No tocador portátil, ouvi alguns sucessos dos Beatles, esperando cair no sono, em sonhos psicodélicos. Comigo, a crença falhara. A música era tão estimulante quanto a própria cafeína.
Enfim, voltei à cama. Sentei-me e pensei. Pensei sobre coisas que nunca havia pensado. Lembrei-me de fatos perdidos. Avistei na mesinha de cabeceira a caneta e o caderno. Tão convidativos, e também despertos. Tomei na mão os companheiros de insônia e pus-me a escrever palavras sem sentido. Não adormeci, mas escrevi este texto.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
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