segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Szomorú vasárnap

Um céu coberto por nuvens cinzentas. Era tudo que havia acima de sua cabeça. As nuvens carregadas ajustavam-se perfeitamente ao espaço. Seus olhos estavam fixos nele; seu corpo, deitado sobre a grama maltratada, cheia de ervas daninhas. Um trovejar. Era o prenúncio da chuva que estava por vir.

O homem permaneceu imóvel, a contemplar o cair dos pingos d'água. Eles caíam em sincronia, embebendo-o, pouco a pouco, por inteiro. Dispondo os braços na frente do rosto e movimentando as mãos, na intenção de pegá-los, sorriu tolamente. Abriu a boca e esticou a língua para senti-los, como faz uma criança, a brincar na chuva. Logo, então, levantou-se.

Caminhou a passos rápidos, saltando, como se brincasse com aquelas gotículas. Era como mágica. Era como uma viagem no tempo, guiada pelo simples fenômeno meteorológico. Seu sorriso, agora, era constante.

"Chuva redentora", pensou, "redime-me agora de todos os meus pecados". Ao criar coragem, disse as últimas palavras ao léu, em voz alta, como se gritasse ao infinito. "Leve-me para longe, muito longe! Faça-me voar com a força das águas! Chuva redentora...chuva...".

Gradativamente, foi perdendo a força e o fôlego. Tirou do bolso a foto da amada, que carregava sempre junto a si. Sentiu o aroma do papel, como se ele exalasse um perfume feminino, agradável e doce. Fechou os olhos e evocou suas lembranças íntimas. Eram belas lembranças de primaveris dias europeus. Alguns de sol, outros de chuva. "Chuva redentora...".

Sentou-se sobre um bloco de concreto, ao lado de uma das muitas lápides ali existentes. Quantas vidas perdidas...perdidas? Ao pensar melhor, pôde ver com outros olhos a morbidez, antes irrefutável, daquele lugar, e perceber que havia beleza naquele céu cinzento, naquela relva sem viço...e que na morte havia vida, por mais contraditório que parecesse. A chuva a fazia florescer.

Num instante incerto, ele a viu. Estava vestida de branco, como no dia em que ele a havia jurado amor eterno. De cabelos soltos e livres, como seu espírito. Estava bela, refletia a beleza de sua descoberta recente. Lentamente, eles se aproximaram. Ele sorriu. Ela sorriu, e apenas sussurrou em seu ouvido: "Szomorú...vasárnap...".

De mãos dadas, caminharam pelos jardins do cemitério. Tudo parecia crescer, florescer. E aquele não era apenas mais um domingo sombrio. Aquele era seu último domingo.

6 comentários:

Camille de Holanda disse...

Debs, que lindo! Adorei de verdade.

teamo, bjks ♥

Griggio, But You May Call Me V disse...

Isso é um conto?
Mas enfim.. é bacana.. gostei.

Débora. disse...

errr...era pra ser, né.
obrigada \o/

Unknown disse...

Demais!
vc tem estilo.

vc lê bastante literatura inglesa? parece ter uns traços na escrita.

Enfim, continue escrevendo :)

Débora. disse...

Demorei séculos pra responder, HUSAUHAS mas ok

eu costumo ler bastante romantismo, não sei...essas coisas simplesmente saem da minha cabeça. mas posso dizer que Cruz e Sousa, Goethe e Allan Poe são influências, pra mim.

Mia Sara Hannigan disse...

"Posso dizer que Cruz e Sousa, Goethe e Allan Poe são influências, pra mim."
ui, q chique >.<
Siiim, Debys. Vc escreve muito bem msmo *___*
seu texto tem sentimento!
continue escrevendo sempre, q eu faço questaõ de ler!!!
bjs